22 março 2006

Vinte e oito de fevereiro de 2006 não foi só carnaval, foi meu aniversário em São Paulo. Neste dia completei 5 anos morando na capital paulista, na metrópole, na terra da garoa, nesta selva de pedra.
Selva de pedra. É para mim o termo que melhor define São Paulo hoje. Pelo que me lembre matei um leão por dia desde de minha chegada aqui (esta é uma média, já que em alguns dias,como hoje, tirei para descansar e em outros matei bem mais que um leão). E também a chamo assim porque me lapidou bastante. Nunca mais serei a menina minada de antes, agora me deixou assim, nesta forma tolerante, que entende que nem tudo é (e nunca vai ser) do jeito que eu quero. Cristo, como tive que amadurecer por aqui! E que tantas lições tive que amargamente aprender. A culpa com certeza foi minha, porque a idéia de vir para cá não foi de mais ninguém. Ah, se eu soubesse... teria vindo do mesmo jeito!
Vivi aqui os melhores anos da minha vida, segundo a definição de que estes anos são os anos da faculdade. Conheci muita gente, me diverti muito, bebi muito e aprendi a cozinhar muito bem. Morei em 4 apartamentos diferentes e me mudei 5 vezes, porque fui e voltei para o mesmo endereço. Dividi 90% de minha privacidade com 17 pessoas que também dividiram luz, telefone, condomínio, festas e aluguel comigo. Nunca vou esquecer estas pessoas, não que todas me tragam boas lembranças, mas são de fato inesquecíveis. E outras eu além de não esquecer, sempre manterei contato.
Fiz bons amigos aqui. Tomei muita chuva também, aqui chove demais! Muitos bons momentos, alguns bons namorados e muita cumplicidade com as companheiras de quarto.
Aprendi a ser apressada, a querer empurrar quem anda devagar na nossa frente na rua e a gostar de shoppings. Uh, aproveitei muito as exposições e shows de graça. Valorizei minha meia-entrada indo demais ao cinema, principalmente naquele cinema pequeno e às vezes vazio, do lado de casa, que só passa filmes que eu gosto e os que eu perdia nos cinemas maiores.
Mas nada disso seria tão gigantesco se eu não tivesse morado por 4 anos e 2 meses no coração da Avenida Paulista. Parada Gay, São Silvestre, Copa do Mundo, greve de professores, Caminhão da Indignação e as mais variadas manifestações. Até com o Hino Nacional eu já acordei (é, as manifestações começam cedo!).O resumo de tudo é que não poderia ter sido melhor. Arrependo-me de muita coisa, claro, mas nunca de ter tido coragem de sair de casa e passar estes cinco anos aqui. As pessoas que eu levo, as lembranças e, sobretudo as amizades sinceras, também lapidadas pela selva valeram muito e valerão para sempre.

11 março 2006

Hoje eu queria levar uma picada. E que essa picada viesse leve, sem ser percebia e que seu efeito fosse aos poucos: primeiro um braço tremendo, depois os pés sem firmeza, em seguida um frio na barriga constante e por fim uma alteração da visão, como se tudo ao redor ficasse coberto de névoa e quando já não existisse mais cura, eu já não seria dona de mim.
Se não for picada, poderia ser um gás fatal e não letal, que me atordoasse os sentidos, que causasse os mesmos efeitos da picada, só que com mais gravidade e mais rápido. Poderia também contrair a doença que muitos pegam e que não é, mas deveria ser, contagiosa. Poderia até ser um comprimido, dos grandes, que eu tanto tenho dificuldade em engolir mesmo quando são pequenos, que me desse o tremelique, o suar nas mãos, a vista embaçada. Ou ainda topar com um vento que me sacudisse ou uma chuva que me despertasse para o sonho, para o que muitos buscam, para o que eu adoraria encontrar, para o que não dá mais para esconder: amor.
É isso que queria que me levasse da vida pequena e medíocre, da coisa mesquinha de me ter para mim mesma e me colocasse diante de um par de olhos transparentes e profundos que codificassem os meu olhos numa piscada. Que fosse possível nosso coração bater descompassado, depois calmo e ainda no nosso ritmo, no tom na música que seria nossa. Que as mãos se tocassem com calor e principalmente que nossas almas se aquecessem.
Por picada, gás, doença, comprimido, por o quer que seja, experimentar o amor com coração e alma livres é tudo que eu quero agora.